Em tempos de incerteza e crise existencial, falar sobre vocação é reacender a chama da esperança. Toda vocação nasce de um chamado — não um convite genérico, mas uma convocação pessoal que nos impele a transformar a realidade ao nosso redor. Ser enviado significa reconhecer que esse chamado não termina em nós, mas se desdobra em missão, direção e impacto. Quando nos tornamos testemunhas da esperança, nossa vida se converte em farol, iluminando o caminho de outros com alegria e paz.
A vocação não é profissão nem conveniência. É escuta profunda e abertura ao mistério. O chamado não grita — sussurra no coração, convocando à ousadia, à entrega e à liberdade interior. Ele pode emergir na oração, na inquietação diante das injustiças, no serviço generoso ou até mesmo no silêncio que clama por sentido. Cada pessoa é chamada a ser mais do que realiza — é chamada a ser sinal vivo de Deus.
Ser enviado é abrir-se ao outro, transpor fronteiras — físicas, afetivas e espirituais — para ser presença transformadora. Não se trata apenas de realizar ações generosas, mas de estar verdadeiramente com o outro. O envio acontece no cotidiano: na família, no trabalho, na comunidade, nos pequenos gestos de cuidado. A missão é viver o Evangelho com os pés firmes na realidade e o coração voltado para o céu.
Testemunhar é dar forma ao que se crê. Mais do que palavras belas, a esperança precisa de rostos, mãos e histórias. O testemunho vocacional não se limita aos púlpitos ou redes sociais — ele se revela na fidelidade silenciosa, na constância diante das adversidades. Ser testemunha de esperança é amar sem garantias, perdoar sem reservas, servir mesmo com o coração cansado. É viver com a confiança de que Deus age até nas entrelinhas da vida.
A vocação floresce quando, de maneira consciente, o chamado é vivido com alegria, provocando transformação concreta na realidade. A paz torna-se uma presença que contagia, e a esperança, uma força dinâmica que sustenta a certeza de que o futuro pode ser melhor. Quem vive essa esperança não apenas acredita nisso — trabalha com fé e coragem para realizá-la.
Ser chamado e enviado é viver como peregrino da esperança, como nos inspira o Papa Francisco. É assumir a missão de ser sinal de Deus no mundo — com alegria que contagia, paz que reconcilia e esperança que renova. Toda vocação — seja religiosa, leiga ou profissional — é uma resposta concreta ao amor de Deus. E essa resposta não apenas transforma quem a vive: transforma também o mundo.
São Luís Orione, chamado desde a juventude e enviado com generosidade, viveu sua vocação no coração da Igreja e da sociedade do seu tempo. Ao longo da vida, discerniu um caminho marcado pela entrega ao serviço, movido pela caridade, sustentado pela esperança e vivido com profunda alegria. Acreditava que a verdadeira vocação se revela por meio do amor concreto, especialmente dedicado aos pobres e sofredores, e que a paz interior nasce da confiança plena na Providência divina. Sua vida inspira todos aqueles que desejam responder com coragem ao chamado de Deus.
Pe. José Martins